Ex-PR de Cabo Verde transtornado, mas confiante nos profissionais de saúde

Numa carta aberta enviada aos profissionais de saúde de Cabo Verde, Pedro Pires, Presidente da República do país entre 2001 e 2011, começa por dizer que nunca pensou conhecer uma situação destas em que o mundo está a viver, com a pandemia que já infetou quase um milhão de pessoas.

“Estava convencido de que as coisas piores por que passei eram um passado longínquo. Não se repetiriam. Vejo que foi uma esperança crédula e ingénua, porquanto, ao que tudo indica, não existe um percurso de vida perfeito e sem catástrofes, neste nosso mundo contraditório. As desgraças têm sido e continuarão a ser nossas companheiras de viagem. Temos é de aprender a conviver com elas e encontrar a melhor terapia”, diz Pedro Pires, de 85 anos.

O comandante que lutou pela independência do país afirma-se “surpreendido e transtornado” com o que tem estado a testemunhar.

“Tenho acompanhado com muita atenção estes acontecimentos. Ora fico magoado e desencorajado, ora sinto-me altamente compensado por atitudes de grande generosidade e de grande amor pelo próximo, vindas de profissionais da saúde”, prossegue.

O também antigo primeiro-ministro cabo-verdiano (1975 e 1991) dá como exemplo o que se passou num hospital de Madrid, em Espanha, onde uma doente curada se despediu “com um largo sorriso de gratidão” enquanto os profissionais de saúde a saudavam “com uma longa salva de palmas”.

“Esta cena levou-me a pensar nos nossos profissionais de saúde. Por isso, decidi endereçar-lhes esta saudação de admiração, de simpatia, de carinho e de solidariedade”, escreve o atual presidente da Fundação Amílcar Cabral.

Na mensagem, dirigida aos médicos e enfermeiros, Pedro Pires sublinha que têm uma profissão de risco, que está confrontada com uma situação nova e complexa.

“O mais grave é que se trata de uma primeira experiência. Estou convencido de que isso tem estado a perturbar-vos e a inquietar-vos. É um comportamento natural, dada a novidade e complexidade desta situação. Mas confio que vão ganhando, a pouco e pouco, o traquejo e a confiança necessária”, escreve Pedro Pires, vencedor do Prémio Mo Ibrahim de boa governação africana em 2011.

“Confio, sobretudo, que vão sair desta ‘prova de fogo’ muito melhores, quer do ponto de vista humano, quer do ponto de vista profissional. Vão ganhar, com certeza, este desafio profissional, humano e espiritual! Não restam dúvidas! Vamos, todos, ganhar esta enorme luta sanitária, das maiores da nossa vida como Nação, sobre a covid-19″, continua.

Assumindo-se como “mais velho e companheiro de jornada”, o presidente do Instituto com o seu nome saúda ainda o “trabalho profícuo” e “dedicação profissional e humana” dos profissionais de saúde.

Cabo Verde, que há cinco dias vive em estado de emergência e com muitas medidas restritivas, continua com seis casos da covid-19 confirmados e um óbito.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 940 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 47 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 180.000 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. A Semana com Lusa

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